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A Beira Baixa caracteriza-se por Danças de Roda, pacatas, dolentes e muitas vezes passeadas ou alegres e saltitadas, aqui e ali encadeadas e arremedadas sendo o Fado uma das mais características da Região podendo ser cantado a solo ou ao desafio, ao lado das celebres Viradas, trazidas do Alto Alentejo pelos chamados Ratinhos quando iam para lá para a ceifa.

As rodas são o elemento essencial da coreografia das danças desta região, os movimentos compassados dos bailadores permitem-lhes cantar, como acontece na Senhora do Castelo, no Siga a Roda, etc. e dar a alma à dança.

Danças simples de mãos dadas, erguidas ao alto, ou descaídas onde predomina o abraço, primeiro rodando para a esquerda (lado do coração) e depois para a direita, o bater das palmas e os movimentos aconselhados pelo sentido da letra, gestos simples mas de grande beleza para quem observa.

"AMOR SIMPLICIDADE
AMOR DELICADEZA
AI COMO SABE AMAR O POVO PORTUGUÊS"

O concelho de Castelo Branco é o Sacrário da tradição. O seu cancioneiro próprio substancia todo o cancioneiro deste concelho, a reflectir ainda o entrechocar de civilizações e de raças por estes sítios, em eras recuadas.

Aberto o sacrário do concelho, passemos em revista os seus cantares, para o que servirão de guia as descrições que se seguem, pobres de colorido e precárias da emotividade que aqueles cantares em nós espalham.

Ouçamos pois essas peças de relicário, recolhidamente, como quem, num silêncio de Museu, contempla com a alma as obras magistrais dos artistas das eras passadas que fazem o orgulho do Homem.... Como quem, na nudez da noite, se sente diminuído perante a maravilha do Universo que o Firmamento nos apresenta... Como quem, na quietude dos laboratórios, se extasia perante os mistérios da Criação para cada vez mais amar a Deus – o Criador!

Homens, nos banzos mais altos das escadas, encostadas às oliveiras, ripam com cuidado os frutos que caem, como chuva, desamparados, sobre mantas no chão.

Raparigas recolhem a azeitona em cestos de verga, e os braços vigorosos das cirandeiras atiram ao alto os frutos preciosos, que voltam a cair nas cirandas, libertos das folhas que o vento, na subida e na queda, arrastam para longe.

E vai de cantar-se as modas que por encanto, também se ajustam ao trabalho da colheita que antecede a faina dos lagares, donde há-de correr abundante o azeite doirado que alimenta e alumia.

  • Moda da Azeitona recolhida na Taverna Seca, Benquerenças, Freguesia de Castelo Branco
  • Azeitona Galeguinha recolhida em Bugios, na Freguesia de S.André das Tojeiras, embora ela apareça também em Cebolais de Cima no Retaxo e no concelho de Penamacor, na freguesia de Aranhas.
  • Ciranda, e O Rancho da Azeitona, Recolhidas na Vila de Alcains

Carreia-se o madeiro grande para a fogueira enorme com que o povo, em sua ternura quer aquecer e animar Jesus Cristo que vai a nascer. Cresce o entusiasmo. Velhos, rapazes e crianças, todos à uma, ajudam a ascensão do carro pesado, por ladeiras empinadas, até ao Adro da Igreja. Ninguém se cansa e grita-se de todos os lados:

Viva quem emprestou o carro!
Viva quem emprestou os bois!
Viva quem deu o madeiro!

Viva Jesus! Morra quem o pôs na cruz!

Depois, à meia-noite, Jesus é nascido. A fogueira está no auge e a dança das chamas é cada vez mais fantástica no drama da combustão. Pela noite escura, rapazes e raparigas partem a cantar as Janeiras, pelas portas das pessoas.

Janeiras Vimos Cantar -- Castelo Branco
Janeiras -- Sobral do Campo
S. José se Levantou -- Malpica do Tejo
Janeiras Vimos Cantar -- Monforte da Beira
Barcarola de Natal -- Castelo Branco
Natal da Beira -- Castelo Branco
Moda das Janeiras -- Escalos de Baixo

Ruas desertas. Pela noite velha, dos cruzeiros, grupos de homens e de mulheres, trajados de nojo, confundidos com a sombra, aventam um canto plangente de ofício litúrgico – A Encomendação das Almas

Recolhidas duas versões: uma em Alcains, outra na cidade de Castelo Branco

No campo e na Quaresma. Surge por entre o trigo a erva daninha, que se torna mister extinguir para que a seara viva a sua vida esperançosa. Bandos de raparigas, como bandos de passarinhos, dedicam o seu esforço ao trabalho da monda, espalhadas pelos trigais adolescentes, a prometer fartura.

Porque é quaresma estão interditas as canções profanas, mas canta-se e cantam-se todo o santo dia Os Martírios da Paixão de Cristo. E assim a canção religiosa acompanha a lide do campo, onde se trabalha, a louvar a Deus.

Sábado de Aleluia. Recende a Natureza em odores penetrantes das plantas, na sinfonia da abertura da Primavera. Os altares desnudados cobriram-se já com as melhores toalhas e ornaram-se de cheirosas flores.

À meia – noite e à porta da Igreja, reúnem-se mulheres para rezar as dezoito coroas que são contadas por dezoito pedrinhas que, da mão da mais velha, se vão soltando, à medida que a reza vai seguindo. Segue-se o Cântico das Alvíssaras. Primeiramente à Virgem.

A Natureza está na sua festa da Primavera e desentranha-se em flores. Pelos altos são giestas brancas e amarelas, os rosmanos, os alecrins, as torgueiras roxas e alvadias, as estevas brancas maculadas pelas «cinco chagas» e até as carquejas vaidosas apresentam suas flores de ouro de altar envelhecido. Nos vales, a margaça faz alvejar as terras negras com o seu branco nevão.

Os romeiros vão andando e só param para comer dos seus farnéis, dar descanso às alimárias e para repousar e alegrar o espírito com alguns jogos de roda ou então algumas modas de «balhar».

Despede-se o Sol com seu adeus de fogo a tingir o Poente.

São chegados os romeiros à Romaria.
Ai, o Senhora da Saúde
Eu já cá vou ao cabeço
Ai. Abri-me a porta Senhora
Que vos quero rezar o terço.

A noite passa-se a ver o fogo, a bailar e a namorar, que o dormir fica guardado só para quando não há mais que fazer.

Ao outro dia, cumpridas as promessas, decorrida a procissão, mais duas voltas na dança e, compradas as lembranças para os amigos que ficaram na aldeia ou na cidade, toca a caminho, antes que a noite alague de sombras e de mistérios a Terra e o Céu.

Ai, ó Senhora da Saúde
As costas vos vou virando

E naquele levantar de arraial, antevê-se que a jornada é longa e um torpor aparece a amolecer os músculos e a dominar os nervos, cansados de vibrar, e nasce breve o desejo de chegar cedo a casa, que o prazer, por fim, também cansa.

Ai, os meus olhos se vão rindo
Meu coração vai chorando

Desmantelados os ornamentos dos carros, extinta a alegria da festa, só os bois e os cavalos e os mansos burros vão contentes e ligeiros pelo caminho que reconhecem e lhes anuncia o regresso às manjedoiras.

O trabalho do campo é árduo e contínuo. No fim da Primavera fazem-se os alqueives para a sementeira do Outono lavram-se as terras ainda moles da humidade invernal e os bois pachorrentos vão desenhando a negro, de mansinho, as tornas na terra verde, em fiadas seguidas, como pinceladas de aguarela.

Os criados da lavoura vão entretendo os bois, a cantar a sua monódia de Aboiar, que misturam com a sinfonia tilintante das campainhas pendentes das coleiras dos animais. A aguilhada indica a marcha e a contramarcha e vai dirigindo os sulcos geometricamente paralelos, nas rectas extensas e nas curvas concêntricas das voltas.

A seara tem ondulações de mar mediterrãnico, e treme o ar e treme a luz e a sombra deixou de existir. Homens de lenço ao pescoço, para empapar o suor, estão recurvados sobre o trigo doirado que há-de dar o pão para a boca e a farinha para a Hóstia. Os braços negros e retesados vão ceifando as gavelas com que se fazem as paveias e duas paveias fazem um molho e os molhos os rolheiros.

O Sol abrasa e o restolho queima, mas a faina continua.

Água, venha água.......

É o grito aflitivo do dia. E uma rapariga, veloz como lebre, numa roda-viva, leva a todos, em cântaro de barro, o líquido precioso que mata a sede r refresca e apaga o fogo ateado dentro deles, como a querer devorá-los.

Mas, embora o trabalho seja penoso, ouve-se da boca dos ceifeiros:

Manina, não se namore
Do rapaz quèmbisg´`o olho...

A que as raparigas rápidas respondem de seguida, na sua oitava superior:

Por cima se cêf´`o  pão...
Por baxo fic´ò ristolho !

É a Cantiga da Ceifa, cantiga tão velha, que está moldada nas notas da syrinx que – quem sabe? – Por ali apascentaram seus gados e trilharam as terras com arados irmãos dos que por ali lavraram nas tornas dos alqueives.

E a canção cai sobre o campo, como a bênção de Deus e o suor dos homens cai na terra abençoada, e tem a ondulação constante e mansa da seara.

Há ainda a referir, como entretenimento dos ócios do povo, os jogos de roda como Manjerico, o Lenço, Corridinho, Cadiacho, Siga a roda, O ladrão do Meio, O Limão, Verde Limão, Aurora, e o Tio Zé, Tio Zé, de graciosas marcações.

Não se podem esquecer as modas de «Balhar»: Azeitona Galeguinha, Hei-de Amar, Reinadio, Serrana, Cantigas da Beira, O Rancho da Azeitona, Compadre Valentim, Moda de Balhar, Oh José, José, Moreninha, Maronita, Damasqueiro, Olaré Catita, O Balão Foi a Lisboa, Ciranda, As Lavadeiras, Moda Virada da Talagueira, Fado, Fadinho Mandado, e a Moda de Tirar o Milho, Maria Dos Anjos.

Há ainda a salientar a recolha de Três Viras:
Vira, Hei Que Vira, S. Domingos.

Não nos devemos também esquecer das modas de casamento, os descantes nus sítios do nosso concelho, só cantados, mas noutros cantados e dançados: Descante Aos Noivos.

A caminho das Romarias cantavam-se as cantigas alegres e marciais da Senhora do Castelo, Senhora da Saúde, Senhora dos Remédios, e Senhora dos Altos Céus.

No recolhimento caseiro havia sempre modinhas de embrechado remoto e grácil que encantam pela toada e pela ingenuidade das trovas, como o Grilo.

E aos serões de Inverno, em volta do braseiro do lume, que sempre chega para todos, são menos monótonos quando alguma velhinha entoa romances.