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A ocupação efectiva desta região não deve ter sido anterior ao séc. XVII. Existem sinais de origem romana e moçarabe, mas, na maioria, não coincidem com a superfície de ocupação actual.

Toponímia: Bem-querença (s) – (afeição)

Património Cultural: Igreja Matriz: de 1751, data registada na pedra cimeira da porta principal; Pia Baptismal em granito

Gastronomia: maranhos, ensopado de cabrito e miga de peixe

Doçaria: Tijelada, papas de milho, bolo de mel, cavacas

Artesanato: Tecelagem (mantas, tapetes, colchas), Tropeços (cortiça)

NÓTULA ETNOGRÁFICA

Taberna Seca, a aldeia onde foram colhidas algumas danças e canções, é um pequeno povoado da freguesia de Benquerenças e fica situada a poente da cidade de Castelo Branco da qual dista cerca de légua e meia.
Está assente numa cumeada de xisto avermelhado onde, a custo e em triste sinfonia, rompe o verde cinzento das oliveiras e das sobreirais, onde se come pão de centeio e se bebe vinho de importação como refrigério para as canseiras de árduo trabalho.

É seu padroeiro S. Gonçalo e ali perto correm, a nascente e a poente, respectivamente, as ribeiras da Líria e da Ocreza, abundantes em peixes de espécies variadas para conduto de singelas refeições.
Começamos com uma canção jovial para alegrar um duro trabalho, que decorre desde a aurora até ao acaso, a céu aberto e a temperaturas outonais e invernosas, como é a colheita da azeitona que, depois de jornadear pelos lagares, nos dá, transformada em azeite, no tempero da comida e a luz que nos lampadários ilumina dia e noite o Santíssimo Sacramento e pelos caminhos, em rústicas lanternas, alumia os painéis das Almas do Purgatório.

Se a melodia é alegre e aliciante para tão penoso trabalho, a letra da canção revela, mais uma vez, o estro popular do nosso povo que, desde tempos remotos até hoje, se tem mostrado, simultaneamente, poeta a desferir a sua lira e músico a tanger o seu saltério.
A canção com que começamos esta recolha nesta localidade é, afinal, uma popular canção onde brincam o amor, a desconfiança e o desdém, mas nunca o ódio nem a maldade. E, se nas quadras se sente, ás vezes, a rudez da pedra lascada, certo é que não lhe faltam os lampejos dos conceitos que inspiram os anseios da arte gótica, nem os sonhos da arquitectura manuelina.

Que grande e talentoso é o povo!

A verdade é que o talento não se aprende nas escolas, nem se vende a metro, aos alqueires ou ao quilo nas drogarias. O talento é um dom que nasce com as pessoas – algumas pessoas – por Graça de Deus! O talento do povo é, como disse o erudito Alberto de Oliveira, no prefácio da primeira edição das “ Mil Trovas Populares Portuguesas “:
“ A maior beleza da poesia do povo está, sem dúvida, em que nenhuma outra obra de arte humana nos dá, como ela, a sensação viva da natureza....A trova anónima é um produto natural de raiz tão natural como a planta que rebentou e floriu, sem ser cultivada pela mão de homens, no meio de um campo maninho “.
Inverno pleno. Colheita da azeitona!

Homens nos banzos mais altos das escadas, encostados às pernadas das oliveiras, ripam com cuidado os frutos que caem como chuva, desamparados, sobre as mantas no chão.
Raparigas recolhem as azeitonas em cestos de verga e os braços esbeltos das cirandeiras atiram ao alto, no ritmo da canção os frutos preciosos que voltam a cair nas cirandas, libertos das folhas que o vento, na subida e na queda, arrasta para longe!

E vai de cantar-se entre outras a “ Moda da Azeitona” que, por encanto, tão bem se ajusta ao trabalho da colheita que antecede a faina dos lagares donde há-de escorrer, abundante e puro, o azeite doirado que alimenta e alumia.